Para o escritor, o homem contemporâneo tem muito a aprender com a leitura de versos
Antonio Cicero afirma que as escolas devem, desde cedo, ensinar às crianças a ler poesia
Uma letra de música pode perfeitamente dar um bom ou um grande poema. E nada impede que um bom poema escrito dê uma boa letra de música. A constatação é do poeta carioca Antonio Cicero, que vai abordar o tema “A dimensão da poesia”, nesta quarta, na Academia Mineira de Letras (AML).
Apesar de muitos afirmarem que a poesia ficou para trás neste mundo veloz e dominado pela tecnologia, Cicero pensa o oposto. “Não se pode ler um poema no ritmo em que se lê uma mensagem no celular”, adverte, salientando que se o leitor não entrar no ritmo do poema e não pensar através da sonoridade e do imaginário daqueles versos, não vai conseguir apreciá-los. “Isso demora algum tempo”, acrescenta. Ao nos abrir uma temporalidade distinta daquela cotidiana e convencional, o poema enriquece a vida de quem o lê, acrescenta Cicero. “Daí a importância de ler poesia hoje. Seria importante que ela fosse lida nas escolas desde o primário”, afirma.
Irmão de Marina Lima, ele é autor de parcerias de sucesso com a cantora e compositora, entre as quais se destacam 'Fullgás', 'Pra começar' e 'À francesa'. Cicero faz questão de lembrar: a primeira poesia conhecida no Ocidente são os poemas de Homero, que eram recitativos. “Nesse sentido, eles eram parentes do rap, que é uma espécie de recitativo”, compara. “Já os poemas líricos, como seu próprio nome indica, eram musicados. Ou seja, o que chamamos de letra de canção. Como os gregos não desenvolveram uma notação musical adequada, perdemos a música, mas conservamos as letras dessas canções. Essas letras são os poemas gregos antigos de Safo, Píndaro, Anacreonte, Teócrito e Calimaço, que conhecemos e admiramos”.
De acordo com o escritor, um poema não precisa dar uma boa letra para ser bom. E vice-versa. Com efeito, a letra é criada para fazer parte de uma canção, explica. “Se ela servir para produzir uma bela canção, então é boa, independentemente de dar um bom poema escrito. E, naturalmente, o poema é feito para ser lido, de modo que não precisa dar uma boa letra”, diz.
Ensaios
Atualmente, o carioca prepara um novo livro de poemas. Em 2015, ele pretende também publicar uma coletânea dos ensaios que escreveu nos últimos cinco anos. “Recentemente, fiz, em parceria com o compositor Arthur Nogueira, uma canção que acaba de ser gravada por Gal Costa”, revela.
Aliás, Antonio Cicero não acredita no propalado fim do formato canção. “Não penso que as formas artísticas existentes terminem. O que elas têm são momentos de maior ou de menor voga”, diz.
Apesar de ter se candidatado no ano passado à cadeira 10 da Academia Brasileira de Letras – e perdido –, Cicero explica que é natural o escritor desejar ser reconhecido por seus pares. “Conheço, admiro e me relaciono bem com vários membros da ABL. Por isso, quando alguns deles me estimularam a candidatar à cadeira que foi ocupada por meu amigo, o poeta Lêdo Ivo, resolvi fazê-lo”, conclui.
O autor na academia
Com o poeta e compositor Antonio Cicero. Nesta quarta, às 19h. Academia Mineira de Letras, Rua da Bahia, 1.466, Centro. Informações: (31) 3222-5764. Entrada franca.
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