Debate foi o primeiro deste sábado (1º), na Festa Literária de Cachoeira.
Com tema 'A Nobreza dos Versos', encontro foi mediado por Jackson Costa.
"A poesia é um estado da alma", disse o poeta e jornalista baiano Florisvaldo Mattos na abertura da oitava mesa da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), no Recôncavo da Bahia, na manhã deste sábado (1º). A frase acima simboliza as sensações que tomaram conta do público durante mais de duas horas de prosa e poesia. Além de Mattos, o poeta e professor Roberval Pereyr também juntou-se à mesa e antecipou logo no início que aquele era o momento da arte literária: "Os poetas não cabem nem nas utopias", declarou.
O encontro de poetas foi mediado pelo ator Jackson Costa. Com o desafio de comandar uma sessão de debates intitulada como "A Nobreza dos Versos", o artista intercalou com os convidados o gosto pela poesia e recitou diversas obras de autores brasileiros. Num dos momentos, ele declarou: "A poesia é atemporal". A frase veio de uma pergunta do público que questionava a relação histórica entre o leitor e as obras.
Sobre isso, Florisvaldo Mattos disse que a produção poética exige que o autor "se desprenda do seu poema, porque cada leitor tem a sua interpretação. É uma coisa quase mística, sendo também mítica. A poesia não se perde no tempo. Ela tem que ser construída para que o leitor sempre perceba o seu conteúdo ", revelou sobre o poder que uma produção literária tem de fazer sentido mesmo sendo vista fora do tempo em que foi escrita. Esse feito é possível, segundo Matos, porque "criar é um estado de espírito de alma. A poesia não precisa de definição, precisa ser realizada", atestou.
Sobre a apreciação das obras poéticas, Roberval Pereyr afirmou que a poesia precisa de um público para sobreviver. "Sem leitor, a obra literária não tem existência histórica. É o leitor que dá existência às obras. Nesse sentido, o leitor é um co-criador", definiu. É na relação do leitor com a arte que novos mundos são descobertos. " Os artistas são criadores de mundo. Eu queria que vocês só imaginassem o quão seria despovoada a humanidade se ela não tivesse nenhum poema, nenhum filme, nenhuma coreografia", desafiou.
Também houve espaço para discussão da qualidade da produção artística contemporânea. "Hoje vivemos numa sociedade dominada pelo o que a sociologia da cultura chama de indústria cultural", ponderou Mattos sobre determinadas lógicas de mercado que, para ele, têm empobrecido as artes como produtos pouco diversos e esvaziados de conteúdo. Neste sentido, qual seria o caminho da arte literária? Sobre o questionamento, Mattos respondeu: "A poesia e a arte devem seguir acreditando que estão seguindo num rumo de ideal sem buscar recompensa nenhuma [em termos mercadológicos]", alertou.
Também sobre o questionamento, Pereyr refletiu que todas as obras contam um pouco sobre a relação com o mundo. Neste sentido, a crítica feita à qualidade de determinadas produções não estaria no tema, mas na estética. "O grande problema é o tratamento dado. Não é pela falta de talento, mas pela máquina que existe atrás", disse sobre as exigências de mercado que para ele têm empobrecido a produção cultural.
Sobre os tensionamentos apontados entre arte e mercado, Mattos concluiu que os poetas têm armas para manter a resistência. "O poeta tem que tá armado de modo que as palavras sejam suas balas", concluiu.
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