Autor de 1.100 livros, Ryoki Inoue decidiu publicar ele mesmo suas obras.
Para editor, livros independentes têm mercado grande e segmentado.
O escritor mais prolífico do mundo cansou de esperar pelas editoras. Autor de 1.100 títulos e reconhecido em 1993 pelo Guinness como o homem que mais escreveu e publicou livros em todo o planeta, Ryoki Inoue já viu seu nome em obras lançadas pelos maiores grupos editoriais do país, mas se sentiu desvalorizado, desistiu e resolveu publicar ele mesmo suas próximas obras, criando uma empresa para fazer isso de forma independente. “O autor é apenas um ninguém para as editoras”, disse o escritor, em entrevista ao G1.
(Série Como publicar o primeiro livro. A Bienal do Livro do Rio acontece até 11 de setembro e movimenta o mercado literário. O G1 publica nesta semana uma série de reportagens sobre o processo para publicar um livro no país.)
“Cansei de ficar esperando prestações de contas. E também cansei de esperar que essas grandes editoras fizessem alguma coisa do ponto de vista de divulgação e marketing”, disse. Em sua empresa, a Ryoki Inoue Produções, o escritor diz ter um controle maior do processo de publicação, da divulgação, da distribuição (com vendas especialmente pela internet) e do retorno financeiro pelos livros vendidos.
Médico, Inoue mudou de profissão e se tornou escritor nos anos 1980. Ele começou a publicar livros de bolso para leitura rápida, com títulos de westerns e pequenos romances históricos vendidos em bancas de revistas. A necessidade de ter uma renda fixa com este trabalho fez com que desenvolvesse técnica para escrever rápido e conseguir publicar muitas obras (até 12 livros por semana), o que o fez alcançar a marca de recordista mundial. Mais recentemente, ele se tornou autor de obras maiores, como “Saga” (Ed. Globo) e “Fruto do Ventre” (Record), mas não ficou satisfeito com a relação com as editoras.
“As editoras grandes, ditas convencionais, estão preocupadas em investir só em autores de retorno certo. Um principiante dificilmente encontra um lugar ao sol”, disse. Segundo ele, a dificuldade em conseguir falar com os editores é outro motivo que o faz escolher e incentivar a publicação independente. “É mais fácil uma boa relação com uma editora pequena do que com uma grande.”
Além de lançar os livros que ele escreve, a produtora de Inoue passou a investir em lançar livros de outros escritores novos, oferecendo serviços de consultoria, edição e impressão de trabalhos independentes. Segundo ele, publicar por grandes grupos editorias só é vantajoso “se o autor considera como real vantagem a vitrine de livrarias, sim. Mas não é o acontece, na realidade”, disse.
Ele alega ainda que os escritores devem assumir o papel de principais divulgadores e vendedores dos seus próprios livros de forma independente. “Um dentista, para poder trabalhar, tem de investir em seu consultório. Um escritor tem de investir em seu próprio trabalho. Esperar que apareça uma editora que invista em sua obra é bastante utópico.”
Independência total
Um processo semelhante foi seguido pelo professor, jornalista e escritor pernambucano Álvaro Filho. Autor de quatro livros, ele sempre fez todo o trabalho de redação, edição e publicação de forma independente, sem passar por editoras grandes ou pequenas. “Não tive paciência de procurar”, disse, em entrevista ao G1.
Seu projeto mais recente, “Jornalismo para iniciantes”, foi lançado no ano passado. Trata-se de uma ficção que aborda os princípios do trabalho jornalístico. “O livro foi todo concebido por mim, desde o texto, a capa, o contrato com o fotógrafo, o designer para a capa, eu que organizei tudo”, contou. A obra foi impressa em uma gráfica do Recife que garante a inscrição de número de série do livro e do código de barra.
A tiragem inicial foi de mil exemplares, e o custo total foi de R$ 3 mil. Para ele, publicar o livro de forma independente dá mais trabalho, deixa sua casa bagunçada e cheia de caixas, mas “financeiramente, não faz muita diferença, pois quem publica por grandes editoras também não ganha muito dinheiro”, disse. Segundo Álvaro Filho, por mais que o dinheiro não seja o objetivo final da publicação, é um investimento que “sempre se paga”. Ele calcula ter vendido cerca de 500 exemplares por preços em torno de R$ 15, cada (um retorno total de R$ 7.500).
Mercados diferentes
Para Leonardo Simmer, o sócio fundador da editora Multifoco, a vantagem da publicação independente é que ela apela a um mercado diferente do das grandes editoras. Apesar de menor e mais segmentado, este mercado é grande e absorve bem novos escritores. “Edições independentes são interessantes para autores que vendam até 100 ou 200 livros, que as grandes não fazem”, disse, em entrevista ao G1.
A Multifoco é uma editora especializada em publicações de impressões limitadas, ajudando a lançar no mercado esses autores independentes. Enquanto as editoras tradicionais fazem tiragens de no mínimo 3 mil exemplares, mesmo que a vendagem fique em torno de 500, a Multifoco chega a editar livros que vendem apenas 30 exemplares. “Trabalhamos com grande liquidez. Com R$ 16 mil, fazemos 30 títulos diferentes de pequenas tiragens”, explicou. Assim, disse, eles diminuem o risco de perder dinheiro com o lançamento e ainda têm retorno mais rápido de que as editoras que apostam em um único título.
Segundo ele, os projetos chegam pelo e-mail da editora e os autores recebem um retorno em até duas semanas. “É uma avaliação superficial, mas conseguimos ver o que nos interessa. Se gostamos, bancamos a publicação”, disse. “Não custa nada para o autor e ainda fazemos um trabalho profissional de edição, diagramação e distribuição”, disse.
Segundo Simmer, a editora lança uma média de 40 títulos novos por mês, buscando segmentar as publicações em selos variados. “Fazemos uma seleção. Queremos publicar trabalhos feitos com seriedade e bem apresentados, mas não temos critérios tão rigorosos quanto as editoras grandes”, explicou. Segundo ele, a editora também aceita prestar serviços de diagramação e impressão para obras completamente independentes.
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