terça-feira, 16 de dezembro de 2014

FLAQ É ENCERRADA COM DEBATE SOBRE LITERATURA "MARGINAL"

Na última mesa da Flaq, autores da "literatura marginal" discutem a escrita como expressão da periferia

Todo escritor sonha em ganhar grandes prêmios literários, como o Jabuti? Para muitos, a resposta para esta pergunta é um óbvio e sonoro “sim”. Mas, não é bem por aí. Para Reginaldo Ferreira da Silva, o Ferréz, a maior parte das premiações é voltada para uma literatura elitista, bem distante da que ele pratica. “As pessoas que realmente escreveram para o povo, como o Lima Barreto, nunca ganharam prêmios. Estamos do outro lado da coisa”, disparou o paulistano na mesa literária que encerrou a Festa Literária de Aquiraz, neste domingo (23).

Desde a última quinta-feira (20), 23 autores passaram pelo Engenhoca Parque Educativo, sede da Flaq. No encerramento, o assunto foi a literatura marginal, produzida na periferia dos grandes centros urbanos do Brasil. Além de Férrez, autor de Capão pecado (2001), a mesa contou com o educador, escritor e “traficante literário” Rodrigo Ciríaco. “Não me considero um escritor, mas um contador de histórias. Costumo dizer que tiro minhas histórias do estômago”, comentou o autor de Te pego lá fora.

Para ambos, a dureza das comunidades marginalizadas, a violência, o tráfico e o pouco acesso a serviços públicos, fazem daquele ambiente fonte de inspiração para uma literatura sem rodeios. “A realidade não cabe no livro. Ela é mais cruel, mas cabe a tentativa de mostrar”, diz Ferréz, que é morador do Capão Redondo, periferia de São Paulo. Ciríaco, que também conhece essa dureza de perto, conta que usou a literatura como uma forma de conviver com as dificuldades. “Precisei criar um mecanismo para sobreviver àquele ambiente”, explica.

Ferréz também usou a literatura como uma forma de retratar e dar voz àquele ambiente que o rodeava. “A revolta faz parte da nossa literatura porque a gente vê o mundo de uma forma diferente. Quem mora na periferia passa por uma grande escola, que é a dor. Eu escrevo para essas pessoas”, diz o autor, que já trabalhou como balconista, vendedor e pedreiro. Leitor desde muito cedo, ele teve que ouvir muita piada de quem não entendia sua predileção pelos livros. “Ninguém respeitava. Diziam muito: ‘o filho do seu Raimundo ou vai ser viado, ou evangélico, ou, pior, vai ser professor’”, lembrou o escritor arrancando risos do público.


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