terça-feira, 23 de setembro de 2014

POETIZANDO SÃO PAULO

Já disse Charles Bukowski que um bom poema pode fazer uma mente despedaçada voar. E não foi só ele. Fernando Pessoa, Machado de Assis, Clarice Lispector… São vários os escritores que escreveram sobre a arte e a satisfação de fazer poesia. Mesmo assim, às vezes ela parece distante, presente apenas em livros antigos ou em ares bucólicos, como os de Alberto Caeiro. Poesia na caótica e turbulenta São Paulo? Impossível! Para desmitificar esse pensamento geral e provar que a cidade é muito mais poética do que se pode imaginar, o Blog da Jota visitou 4 saraus de poesia. É hora de tirar aquele seu poema empoeirado da gaveta!


Casa do Poeta Lampião de Gás


O Sarau da “Casa do Poeta Lampião de Gás” é o mais antigo de São Paulo e um dos primeiros da América Latina. Foi criado em 1948, pela poetisa paulistana Colombina, mais conhecida como a “Poeta do Amor”. No começo as reuniões eram em sua própria casa, mas ao longo desses 66 anos de existência o sarau já mudou várias vezes de local. Atualmente ocorre no 2º andar da Associação Paulista de Imprensa(API), na Liberdade. O lugar é pequeno, mas bem confortável. A parede cheia de quadros e o piano no canto da sala contribuem para criar um ambiente bonito e acolhedor. Três a quatro integrantes compõem a mesa e chamam um a um os poetas, fazendo uma breve apresentação sobre eles. Há pouquíssimos jovens, o clima é descontraído e todos se conhecem pelo nome. Há espaço para versos de outros escritores, música e cantoria. Até os que nunca declamaram um poema são convidados a perder o medo e participar. As poesias em sua maioria falam de amor, saudade, infância, sobre Colombina e a Casa do Poeta. Mas qualquer tema é bem vindo. Até Neymar e a Copa do Mundo foram alvos de rimas! E se tiver esquecido os poemas, você pode recitar os do Jornal Fanal, o mais antigo jornal de poesia das Américas. Ele é publicado mensalmente pela Casa, e além de fotos e calendário dos aniversariantes do mês, contém também vários poemas para o caso de dar aquele “branco”. Onde: Rua Álvares Machado, 22- Liberdade Quando: Todas as 1ª e 3ª terças do mês.


Sarau do Burro


Em uma famosa galeria da Vila Madalena, vários jovens se reúnem para declamar poesia. É o Sarau do Burro, fundado em 2009 e maestrado pelo poeta Daniel Minchoni. Os jovens recitam sentados no chão, em roda, como em uma conversa. Um tema emenda o outro e não há problema em errar o verso ou esquecer a estrofe. O clima é animado, todos os jovens eufóricos com a poesia. Há vários poemas de engajamento politico e social, que trazem à tona as diversas mazelas da sociedade, como racismo e desigualdade social, mas também outros temas como amor, sexo e casamento. Tudo bem variado e imprevisível, depende de onde o diálogo poético levar. Onde: Rua Harmonia, nº 95- Vila Madalena. Galeria A7MA Quando: Primeira terça do mês, às 20hs.


Casa das Rosas


E não tem como falar de poesia sem falar na Casa das Rosas. A Casa das Rosas foi inaugurada como espaço de arte e cultura em 1991, com o nome de “Mansão Casa das Rosas- Galeria Estadual de Arte”. Somente em 2004, modificou-se para “Espaço Haroldo Campo de Poesia e Literatura”. Ao longo de sua jornada poética, ela cada vez mais se diversifica: “O público é bastante variado”-diz o supervisor cultural da Casa, Daniel Moreira- “Recebemos cerca de 10 mil pessoas por mês, 60% nos finais de semana. Mas os números variam muito de acordo com o evento”. Para abranger todos os públicos, a Casa têm diferentes tipos de recitais e saraus. Os recitais são fechados e as pessoas que se apresentarão são definidas previamente. No recital “O que é poesia?”, que acontece mensalmente, um convidado bate papo sobre sua relação com a poesia. Em maio o convidado foi Sérgio Vaz, um dos curadores da Cooperifa. Os saraus são abertos e qualquer um pode se inscrever. A Casa também organiza saraus infantis e para o público mais jovem, misturando rock, rap, tudo bem diversificado. Porém, 3 são fixos. Dentre eles está o “A plenos pulmões”, que acontece mensalmente com a curadoria de Marcos Pezão, e engloba todos os tipos de público. Além disse, ele também contempla a literatura periférica, que vêm crescendo e expandindo cada vez mais o movimento poético. “Atualmente há cerca de 100 saraus por mês na cidade”, diz Daniel. Além dos espetáculos, a Casa também oferece exposições variadas sobre poesia e cultura, palestras e oficinas.


Sarau do Binho


Por último, um dos saraus mais conhecidos da cidade de São Paulo. Até 2012, ele acontecia no Bar do Binho, no Campo Limpo, até que a prefeitura fechou o estabelecimento por falta de alvará de funcionamento e impôs uma multa de R$8.000 O caso teve grande repercussão e para sanar as dívidas e dar continuidade ao sarau, foi criado um projeto no Catarse, que recebeu apoio e mobilização coletiva, conseguindo o dinheiro necessário para pagar a multa. O Sarau do Binho é um importante meio de contestação social, não só por mostrar a força e riqueza dos movimentos culturais da periferia, mas também como forma de reivindicação- a poesia pela luta e pela mudança. É como disse Binho em entrevista para o blog Balaio Cultural, em 2012: “O sarau também pede ações. Não é só poesia pela contemplação. A nossa poesia pede um reflexão mas pede também uma ação a partir daí.” Juntamente com outros saraus periféricos como o Cooperifa, Sarau da Brasa e Elo da Corrente, o Sarau do Binho marcou presença na 40ª Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, que aconteceu de 24 de abril a 12 de maio. Ao todo, foram 16 coletivos e mais de 100 que se apresentaram no stand reservado aos brasileiros. Atualmente o sarau acontece no Espaço Clariô de Teatro, em Taboão da Serra e também em bibliotecas e praças públicas da cidade.

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