Se estivesse vivo, Paulo Leminski completaria 70 anos no último dia 23 e, consequentemente, encerraria sua adolescência, como disse em um poema
Paulo Leminski morreu no dia 7 de junho de 1989 em consequência do agravamento de uma cirrose hepática|Foto: Reprodução
Além das fronteiras da poesia. Além das críticas de uma possível degradação, depredação da qualidade literária brasileira. Além. Leminski vai além da cova e continua inventando e vai continuando a aparecer como o poeta do futuro, enterrado, infelizmente, no passado.
Não posso dizer ao contrário. Aprendi com o Polaco Loco Pacas que poesia não faz da alma vazia. Que poesia não é uma “excrescência ornamental da sociedade”, como dizia. Ou seja, é um gozo necessário. Como um gol, em uma partida de futebol. Leminski, atacante, na frente de toda uma geração anunciava, desde sempre, que nossa mania de estar, de existir, ou seja, de ser exatamente aquilo que a gente é ia nos levar além. Além.
No haikai, modalidade poética oriental, o Cachorro Louco se aprofundou de tal maneira que resolveu ignorar as determinações literárias do estilo e introduzir sua poesia ali. Ele podia e fez. E multiplicou.
E por fim, também ultrapassou os limites de si mesmo: o Multiploleminski. Ele também vai além de mim, que escreve esse texto, e conclui sua poesia melhor do que qualquer um. Assim: a língua que eu falo trava/ uma canção longínqua/ a voz, além, nem palavra/ O dialeto que se usa/ à margem esquerda da frase/ eis a fala que me lusa/ eu, meio, eu dentro, eu, quase.
Abaixo o poema de Paulo Leminski, poeta, biógrafo, ensaísta, músico, compositor. Uma etecetera:
quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta adolescência
vou largar da vida louca
e terminar minha livre docência
vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com o passo perfeito
vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito
então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência
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