"Acabei me tornando o famoso amigo gangorra: quando eu sentava, muita gente levantava", diz poeta
Poeta Sérgio Vaz conta sobre a vida e os sonhos na juventude
Eu venho de um lugar onde achavam que o planeta se chamava Terra porque as ruas não tinham asfalto. No meu bairro não tinha nem escola estadual. A gente não crescia para fazer universidade.
Eu também achava que poesia não tinha utilidade, que era coisa de cara maluco que acorda e fala bom dia para o café, bom dia para o pão, bom dia para o Sol. Porque nos anos 70, na periferia de São Paulo, região violenta, poesia era coisa de gente fresca.
Aos 21 anos eu comecei a me interessar por MPB e, depois, por literatura. Aí conheci Pablo Neruda, João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar. Foi quando eu percebi que poesia servia também para lutar contra a ditadura, a favor da liberdade. Nessa idade eu comecei a escrever.
No futebol, me perguntavam: “Tá escrevendo poesia, mano?”. Eu dizia: “Não, é letra de protesto!” Acabei me tornando o famoso amigo gangorra: quando eu sentava, muita gente levantava. A solidão da literatura é terrível. Ler e não ter com quem comentar é péssimo. Me questionava por que meus amigos não liam.
Mas, lá dentro, uma coisa já me inspirava a mudar esse cenário. Antes da Cooperifa, eu tive o Poesia Contra a Violência, em que implorava para os diretores das escolas me deixarem entrar e recitar poesias.
Naquela época, minha perspectiva era chegar aos 50 anos prestes a me aposentar, trabalhando 20 anos na mesma empresa, voltando do trabalho e vendo novela, Jornal Nacional. Não imaginava o que aconteceria.
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