Creio que comecei a
criar meus primeiros poemas concretos em meados de 2013, sendo que o primeiro
deles, AO PÉ DA LETRA, foi criado quando eu nem sabia do que se tratava essa
tal de poesia concreta. Foi por conta de um comentário na imagem que me
interessei e pesquisei mais sobre o assunto.
No ano de 2015, estudei
profundamente a história e evolução do movimento concretista no mundo, desde os
primeiros caligramas que datam de antes do nascimento de Cristo até os
movimentos mais recentes, como o neoconcretismo. Comprei e li livros, pesquisei
artigos, notícias, assisti vídeos, documentários, entrevistas etc. E, paralelo
a isto, fui me desenvolvendo e experimentando diversos recursos para a criação
dos meus poemas. Até alguns com métrica clássica (haicai), consegui transformar
em poesia concreta. Foi um período muito produtivo. Tanto que boa parte destes
poemas integrará o meu próximo livro, A LER VAZIOS.
E, visto que existem
diversas vertentes no que se refere a poesia experimental, durante meus
estudos, decidi anotar alguns conceitos que julguei serem mais importantes, a
fim de introduzir as pessoas a este tipo de arte poética. Espero que eles sejam
informativos e esclarecedores.
:
"Em virtude da postura
aguerrida que os movimentos de vanguarda tiveram que adotar para fixar suas
ideias, ficou a impressão de que afirmar a validade da poesia concreta e visual
é negar a continuidade da poesia em verso. Para o professor Philadelpho
Menezes, o fato de experimentarem novas possibilidades estéticas, na poesia e
nas artes em geral, não significa que as formas clássicas de expressão serão
abandonadas. Elas se reciclam, se renovam no contato com as formas mais
experimentais e passam a conviver com estas, muitas vezes num mesmo ambiente,
num mesmo livro. E servem, frequentemente, como realimento para outros saltos
experimentais."
"Sem dúvida, o diálogo e o debate da poesia concreta e visual é com a poesia, inicialmente entendida como arte da palavra. Existem exemplos de poemas visuais sem palavras, feitos só de imagens, mas isso não quer dizer tais poemas, por não terem palavras, são destituídos de significado. A poesia concreta e visual passou anos lutando para mostrar ideia de que poesia é forma, mesmo a versificada. Para o professor Philadelpho Menezes, é hora de pensar a contramão da história e afirmar que, sendo agora evidente que poesia é forma, é preciso recuperar a riqueza de significados e dizer, como o poeta Ezra Pound, que ela é forma carregada de significado ao último grau."
"... o termo "poesia visual" é mais específico: refere-se a um fenômeno poético do século XX, em que o cruzamento das linguagens é decorrência direta do panorama visual das grandes cidades e dos meios de comunicação de massa."
- Philadelpho Menezes
"Sem dúvida, o diálogo e o debate da poesia concreta e visual é com a poesia, inicialmente entendida como arte da palavra. Existem exemplos de poemas visuais sem palavras, feitos só de imagens, mas isso não quer dizer tais poemas, por não terem palavras, são destituídos de significado. A poesia concreta e visual passou anos lutando para mostrar ideia de que poesia é forma, mesmo a versificada. Para o professor Philadelpho Menezes, é hora de pensar a contramão da história e afirmar que, sendo agora evidente que poesia é forma, é preciso recuperar a riqueza de significados e dizer, como o poeta Ezra Pound, que ela é forma carregada de significado ao último grau."
"... o termo "poesia visual" é mais específico: refere-se a um fenômeno poético do século XX, em que o cruzamento das linguagens é decorrência direta do panorama visual das grandes cidades e dos meios de comunicação de massa."
- Philadelpho Menezes
* * *
Caligrama = ideograma + caligrafia
(símbolos gráficos que representam unidades de sentido).
* * *
Pinacograma = otra
forma de expresión muy parecida al caligrama es el pinacograma y consiste en
dibujar el rosto de una persona con los caracteres tipográficos que componen su
nombre.
(Obs.: Foi criado pelo
físico-teórico Gilles Esposito-Farèse)
* * *
O Caligrama desfeito -
por Michel Foucault
“... ao se aproximar na
relação entre ambos, Foucault arrisca expor sua mecânica interna,
classificando-a em determinado momento, como um caligrama - recurso expressivo
que teria a seu ver “um tríplice papel: compensar o alfabeto; repetir sem o
recurso da retórica; prender as coisas numa armadilha de uma dupla grafia (...)
(se servindo) dessa propriedade das letras consiste em valer, ao mesmo tempo,
como elementos lineares que se pode dispor no espaço e como sinais que se deve
desenrolar segundo o encadeamento único da substância sonora. Sinal, a letra
permite fixar as palavras; linha, ela permite figurar a coisa. Assim, o
caligrama pretende apagar ludicamente, as mais velhas oposições de nossa
civilização alfabética; reproduzir e articular; imitar e significar; olhar e
ler. Acuando duas vezes a coisa de que fala, lhe prepara a mais perfeita
armadilha. Por sua dupla entrada, garante essa captura, da qual não são capazes
o discurso por si ou o puro desenho.
* * *
Símias de Rodes (300
a.C.) foi o precursor dos caligramas.
O ovo
* * *
O papel de Guillaume Apollinaire nas vanguardas europeias - Silvana Vieira da Silva
“Por meio de
caligramas, Apollinaire busca uma outra forma de correspondência, empregando aí
palavras como um instrumento de expressão poética, porém, utilizando-as como se
elas pertencessem ao universo plástico e não linguístico.”
* * *
Apollinaire e Mallarmé
são evocados como patronos das vanguardas modernas.
* * *
“Caligrama é um tipo de
poema visual nomeado e popularizado nos primórdios das vanguardas históricas do
século XX, que se expressa através de uma original disposição gráfica do texto
escrito, formando uma espécie de pictograma e representando um símbolo, objeto
real ou figura que é a própria imagem principal do poema. Em linguística, a
partir do estudo desse tipo de poema e outros tipos de poesia visual, passou-se
a usar o termo para defini um texto cuja “forma” pretende representar algo ou,
pelo menos, ter com ela alguma relação analógica, funcionando seu design como
complemento ao sentido.”
* * *
Apollinaire, Caligramas - Edición de J. Ignacio Velazquez
Modos y forma de lectura del caligrama:
A - Lectura en espiral y lectura aleatoria entre versos pares e impares, o
primer verso con último.
B - Lectura correlativa: de arriba hacia abajo o de abajo hacia arriba.
C - Lectura versolibrista: la palabra en libertad “¿Dónde está el primer
verso?”
D - Caso especial: no existen versos, las palabras crean el contorno de la
figura y su lectura es lineal.
Un Coup de Dés Jamais N'Abolira le Hasard - Mallarmé
¿Qué podemos concluir sobre forma v/s texto en un caligrama después de éste
análisis?
1 - Muchos caligramas usan el texto como “excusa” para crear la forma que
el autor en su mente quiere componer. Así, la forma pasa a ser lo mas
importante de la obra, donde el texto muchas veces no tiene relación con la
figura haciendo que el impacto visual sobrepase al literarios.
2 - Cuando la figura y el texto nos hablan tanto el uno sobre el otro, el
equilibrio entre signo y literatura hace a la obra mas completa, pues se acerca
mas a las bases teóricas creadas por los griegos cuando idearon los caligramas.
Si el impacto visual es tan grande al ver la figura como lo es el literario
al leer los versos, se nos hace mas fuerte la tautología de la obra y la
consideramos mas elaborada por su nivel de conexión.
3 - La preponderancia que tenga lo textual o lo visual de un caligrama no es
invariable. La importancia que el texto e el signo tengan para el lector se
verá influenciado por la lengua en que el caligrama esté escrito, así, un
caligrama griego tenderá un valor mas visual que textual, y por el contrario,
un caligrama en nuestro idioma, tiene la posibilidad de que, si su texto es
importante para el mensaje visual, nivelar lo visual con lo textual.
Finalmente, si un caligrama en el idioma usa el texto como pretexto para formar
una imagen que no tiene relación con él, también estaría valiendo mas su imagen
al ser lo primero que, como lectores, vemos e interpretamos.
4 - Algunos caligramas hablan por sí solos o nos generan, al enfrentamos con
el texto, una serie de historias e conceptos que van ligados al símbolo
representado. Esto hace que lo visual hable mas que lo textual y le da al
caligrama mayor nivel en ese aspecto. Muchas veces, en la simpleza de la forma
radican mas historias que en sus versos, los que son, en estos casos, un apoyo
a la figura.
5 - Lo muy abstracto en un caligrama, tanto en forma como en texto, tiende
a confundir al lector que no sabe a qué parte darle la preponderancia. Una
imagen que nos hable de algo por sí misma y un texto que no comprendamos tiende
a dejar al lector con una sensación de frustración al no poder darle algún tipo
de sentido a la obra.
Se deben evitar los excesos y mantener siempre claro que ante todo, un
caligrama, al ser una obra escrita, es un transmisor de mensaje, ya sea visual
o textual.
6 - Cuando el signo no es totalmente claro de definir y puede ser
interpretado como diversas formas, el texto debe ser aclaratorio de la figura.
Así, el lector podrá reordenar mentalmente la forma y darle la conexión con el
texto. Si una figura no es clara, y el texto tampoco, se cae en lo sucedido en
el punto 5.
Como conclusión final y que pueda ser una frase que se tome como norma ante
la duda de ¿qué es lo que mas importa en un caligrama? podemos, después de lo
desarrollado decir:
“El valor visual o textual que tenga un caligrama dependerá de quien lo
mire, mas allá de la intención primitiva de autor. Al minuto en que un
caligrama sale de la imprenta y se propaga, deja de ser lo que o autor quiere
que sea, y se convierte en lo que cada persona quiere que sea, basados en su
idiosincrasia. Un caligrama adapta su significado según la época en que sea
visto o leído ya que nos es una obra invariable.”
Apollinaire
* * *
Concrete Poetry in Digital Media: Its Predecessors, its Presence and its Future - Roberto Simanowski
“The philosophy behind this playing with form, behind this shift towards
typography, is to free the word from its pure representational, designational
function. While in literature the physicality of language - such as its
graphical aspects normally is neglected and even considered to poison the
authority of the text, here the visual form of the word was used as an
additional meaning. The word not only represents an object it represents it on
the visual level. The goblet is to be seen before one even, starts to read.”
“... concrete poetry deals with the relation between the visible form and
the intellectual substance of words. It is visual not because it would apply
images but because it adds the optical gesture of the word to its semantic
meaning - as completion, expansion, or negation. The intermedial aspect does not
lie in the change of perspection, from the semiotic system of reading typical
for literature to the semiotic system of viewing typical for art."
* * *
Reading Space in Visual Poetry: New cognitive perspectives
“... in 1897, when the French Symbolist poet Stéphane Mallarmé published
his influential poem Un Coup de dés jamais n’abolira le hasard. The poem
appeared in the French journal Cosmopolis, and was preceded by a preface in
which Mallarmé explicitly directs the reader towards an awareness not only of
the spaces between words, but of the entire space of the printed page. ‘Les
“blancs”, en effet, assume l’importance, frappent d’abord’, Mallarmé states
[‘the “blanks” take on importance, and are what is the most immediately
striking’]. In his manifesto-like preface, then, Mallarmé puts forth a
counter-intuitive claim, challenging the notion that the black type reigns
supreme.”
“By problematizing the conception of the physical surface of the page as
merely a neutral setting for the text, Mallarmé subverts established notions of
background and foreground. His revolutionary deployment of the page space opens
up new avenues for poetic expression: he turns spatial values, such as the
topographical position of words and their distance to other words or word
groups, into a signifying force in their own right. Moreover, he also dramatizes
typographical design by equipping words with distinctive visual features,
deploying a wide variety of different typefaces and sizes, ranging from large,
bold upper case characters to thin, small, italicized ones. Topographical and
typographical values thus become additional expressive tools, and readers of Un
Coup de dés have to take these visual factors into account when interpreting
the textual meanings.”
“In their famous ‘Pilot Plan for Concrete Poetry’ from 1958, the
Noigandres poets formulate their own conception of poetic space and the new
reception patterns they hope to stimulate in their readers. ‘Concrete poetry’,
they state, ‘begins by being aware of graphic space as structural agent [...]
proportioning new spatio-temporal modes of apprehension of the text by the
reader’. With the concrete poem, the Noigandres poets maintain, the phenomenon
of meta-communication occurs, the simultaneous apprehension of different codes
and sign systems, and the ‘coincidence and simultaneity of verbal and nonverbal
communication’. This new form of visual poetry, they write, ‘deals with a
communication of forms, of a structure-content, not with the usual message
communication’.”
“... when participants encounter linguistic signs that are arranged in
pictorial but ordered fashion, the primary instinct is still to adopt a
classical reading approach. Only if that is not possible, or not informative,
do they opt for a more varied scanning approach.”
“... The systematic generation of cognitive rupture by disrupting
habitual responses to poetry is a key aim of many avant-garde writers, and our
data shows that when readers are confronted with non-mimetic and non-linear
visual poetry, an oscillation between linear decoding and spatial scanning
occurred. Visual poems thus create confusion on numerous levels: about the
relationship between figure and ground, about genre affiliations, about
reading/viewing modes, and about the relationships of the linguistic parts to
each other.”
“Mimetic poems like Apollinaire’s ‘The Tie and the Watch’ and Alan
Riddell’s ‘The Honey Pot’ were the most popular ones. As early as in the 4th
century B.C., Aristotle already suggested in his Poetics that human beings
respond to likeness with pleasure, meaning that mimesis and recognition elicit
positive responses. Similarly, he diagnoses an epistemophilic drive in humans,
asserting that they derive pleasure from the act of understanding (that is,
cognition and problem-solving). Both the acts of recognition and cognition,
Aristotle posits, are pleasure-inducing mental processes. This applies to
visual poems, too, but they operate on a very fine line between a complexity
that can be experienced as threatening and a simplicity that can be experienced
as predictable or banal.”
* * *
The International Concrete Poetry Movement - Marjorie Perloff (Stanford University)
“Concrete poetry is founded upon the contemporary scientific-technical
view of the world and will come into its own in the synthetic-rationalistic
world of tomorrow. If concrete poetry is still considered strange (aesthetically)
meagre or overly - simplified) this is probably due to a lack of insight into
the new directions in which our society is developing in thought and action
which in essence contain a new total view of the world.”
* * *
The Materiality of Cognition - Concrete Poetry and the Embodied Mind - Mike Borkent
“Concrete poetry is often multimodal and uses both visual and verbal
cues to construct meaning; the poems employ the materiality of both the page
and language through manipulations and evocations of space, arrangement,
typography, artistry, generic conventions, and spelling. Therefore, this poetic
style constructs meaning through emphasizing the often ignored visuality of
words and the page.”
“Cognitive poetics offers a way of engaging with both the textual and
non-textual expressions of these societal shifts, which can in turn inform much
of our analysis of how images and texts interact with our historical, cultural,
social, and physical realities.”
* * *
The Noigandres Poets and Concrete Art - Claus Clüver (Indiana
University)
“The three Noigandres poets from São Paulo, Décio Pignatari and Haroldo
and Augusto de Campos, were joined by three “Cariocas”, Wlademir Dias Pino,
Ferreira Gullar, and Ronaldo Azeredo. Not long after, the artists and
poets from Rio decided to break
with the Paulistas for ideological reasons and declared themselves to be
“Neoconcretos”, except for Ronaldo Azeredo who had already joined the Noigandres
group (and was followed a little later by another Carioca, José Lino
Grünewald).”
“Art represents the qualitative moments of sensibility raised to
thought, a “thought in images”. [...] The universality of art is the
universality of the object. [...] Art is different from pure thought because
it is material, and from ordinary things because it is thought. [...] Art is
not expression but product. [...] Spatial two-dimensional painting reached
its peak with Malevich and Mondrian. Now there appears a new dimension: time.
Time as movement. Representation transcends the plane, but it is not
perspective, it is movement. (Cordeiro, 1956)”
“... The insistence of the Noigandres poets on listing in the “Pilot
Plan” not only Mallarmé, Pound, Joyce, Cummings, and Apollinaire as well as the
Brazilian poets Oswald de Andrade and João Cabral de Melo Neto as
“precursors”...”
* * *
“I define concrete poems as those in which only letters and/or words are
utilized to form a visual image. Whereas visual poems constitute those in which
images are integrated into the text of the poem.”
- Dr. Marvin A. Sackner
* * *
Reading Space in Visual Poetry - Bob Cobbing
“a silent tongue sounding
an eye scanning
does a blank page not have a duration
is it silence or noise
we tongue it with our eyes
polyphonic skin of events
on the pool of meaning making”
“Gone is the word as the word, though the word may still be used as
sound or shape.”
“Poetry now resides in other elements.”
* * *
The Last Vispo Anthology: Visual Poetry (1998 - 2008)
“In the manual, letters lose their chemical word attraction, their
ability to bond to one another, to cohere into words, and they begin to perform
mutated experiments on each other and themselves. In the manual, letters are
not monogamous - they do not belong to any particular word, but are free to
roam and explore themselves. They form new molecular space.”
“A letter has no beginning and no end.”
“The keyboard is a house of letters.”
“Words make a prison for letters.”
“Reading a visual poem takes a minimum of three steps (pour over the following
essays for additional ways of making meaning from visual poems): 1) Read the
entire page/space at once. The visual poem is designed to first be read completely
(unlike most poems on the page chained to left to right, top to bottom
regimens). 2) Read the parts of the whole. Consider their position on the
page/in space, their relationship/s to other parts. Much that happens in a
visual poem happens here. 3) Read the full poem again at the same time reading
its elements as they combine and re-combine to create the whole.”
* * *
Características
principais do concretismo:
- Elaboração artística
em busca da forma mais precisa.
- Ênfase na
racionalidade, no raciocínio e na ciência.
- Uso de figuras
abstratas nas artes plásticas.
- União entre forma e o
conteúdo na obra de arte.
- Na Literatura, os
poetas concretistas buscavam efeitos gráficos, aproximando a poesia da
linguagem do design.
- Envolvimento com
temas sociais (a partir de 60).
* * *
POESIA CONCRETISTA (Uma Análise Verbo-voco-visual da Literatura) - Thiago Camejo
“A
poesia concreta tem como particularidade a subversão da poesia como resultado
apenas da palavra escrita, utilizando, portanto, como parte de sua construção
subjetiva o elemento visual: na disposição das letras, na união entre texto e
imagem para sua completa significação (como nas histórias em quadrinhos) e nos
jogos de palavras que se apoiam em recursos nem sempre só visuais, como as
aliterações (repetição do mesmo som consonantal) e as assonâncias (repetição do
mesmo som vocálico).”
* * *
Manifesto
Neoconcreto
“A
expressão neoconcreto é uma tomada de posição em face da arte não-figurativa
“geométrica” (neoplasticismo, construtivismo, suprematismo, Escola de Ulm) e
particularmente em face da arte concreta levada a uma perigosa exacerbação
racionalista. Trabalhando no campo da pintura, escultura, gravura e
literatura...”
* * *
Neoconcretismo:
manifesto e práxis - Luisa Günther Rosa
“O
Manifesto Neoconcreto, documento que marca a especificidade existente entre
dois coletivos de artistas não-figurativos brasileiros da década de 1950: o
Grupo Ruptura e o Grupo Frente. A argumentação buscou considerar a recorrente
dicotomia postulada entre arte pura vs. arte expressiva; vanguarda formal vs.
vanguarda engajada; razão vs. sensibilidade...”
“Todos
nós sabemos que a Arte não é a verdade.
A Arte é uma mentira que nos faz compreender a verdade, pelo menos a
verdade que nos é dado compreender. O artista deve convencer outros da
veracidade de suas mentiras.” - Pablo Picasso
“Pois
então que a verdade seja dita. As manifestações artísticas são isentas da
necessidade de coerência e estão além das mesquinharias que podem surgir em
julgamentos relativos à sua relevância. Não precisam ser pertinentes. Não
precisam ser eficientes. Não precisam ser compreendidas. Precisam apenas
existir. Para isso, dependem de uma vontade de vir a ser que promova uma ação
criativa. Dependem do anseio insistente que providencie a sua realização
enquanto ação, evento, marco ou atualização.”
“As
manifestações artísticas dependem de um momento que o faça significativa, já
que cada uma é documento que revela tanto o momento histórico em que surge,
quanto o momento de sua apreciação, vivência...”
“... De
todo modo, por mais que a valorização de determinados artistas e estilos, em
detrimento de outros não seja sozinha evidência da desigualdade social entre
pessoas, é um bom indício dos julgamentos e aspirações de grupos sociais em
determinados momentos históricos. Permite que se identifique o que é dotado de
valor, de prestígio, de status. É justamente aqui que reside a importância do
artista se questionar sobre o seu papel social. Afinal, até que ponto as
manifestações que realiza e das quais participa contribuem para a inclusão ou
exclusão de outras práticas sociais de outros valores, de outras pessoas? Até
que ponto o seu engajamento apresenta, de fato, uma postura política e ética
diante da sociedade na qual atual?”
“... Contemplar
o resultado de um processo artístico é inserir-se no mundo perceptivo de uma
pessoa.”
“No
intuito de compreender o fenômeno artístico, a Sociologia da Arte pode
consolidar-se mediante a investigação (a) da relação entre a obra artística e
as condições sociais de sua possibilidade; (b) do modo como uma obra artística
se insere no mundo social; (c) da relação entre obra artística e o público; (d)
da função social do artista; (e) da função política de uma obra artística; e,
(f) das premissas ideológicas do autor. Soma-se a isto a preocupação de como
cada manifestação artística deve ser valorizada por sua especificidade
singular, provocando a impressão de que não existe espaço para uma teoria geral
sobre a criação ou recepção artística. O manifesto será compreendido como um
documento que resulta de e, ao mesmo tempo, promove ações sociais direcionadas
pelo fazer artístico de um grupo de pessoas que compartilham experiências e
valores.”
“Diferentemente
da Arte Concreta que, sob os preceitos da abstração geométrica, privilegiava
formas e cores puras, sem referência ao mundo da vida, sem referência à
subjetividade do artista, o Neoconcreto estrutura uma nova dinâmica de fruição
estética. O momento da fruição com a obra artística promoveria um amálgama
entre a dimensão pública da obra e a realidade interior do artista. Os artistas
neoconcretos eram contrários aos modos padronizados de se relacionar com a
Arte, eram contrários a uma Arte direcionada para prêmios e salões; para o
preenchimento de requisitos acadêmicos ou representacionais; para ser
contemplada e não vivida.”
“A
promoção do artista enquanto ator social diferenciado ocorre não apenas em
termos das habilidades técnicas e estilísticas adquiridas ou mesmo dos valores
ideológicos que passa a sustentar. Artista é aquele que convive em determinados
circuitos sociais e que promove um estilo de vida específico mediante o
trabalho simbólico que realiza. Artista é aquele que marca não apenas a sua
distinção social, mas também a de outros, daqueles que corroboram com
determinados padrões de apreciação estética. No Brasil a participação em
determinados estilos de vida é marcada por um evidente limite estabelecido em
função da classe social e do status simbólico de que goza uma determinada
pessoa.”
* * *
Verbivocovisual
= Na poesia concreta, diz-se da forma de apresentação de um poema em que o
texto é organizado segundo critérios relacionados aos aspectos gráficos e
fonéticos das palavras; integração do verbal, do visual e do sonoro: a dimensão
verbivocovisual da poesia.
(Obs.: Conceito criado por James Joyce (1882-1941), poeta irlandês.)
(Obs.: Conceito criado por James Joyce (1882-1941), poeta irlandês.)
* * *
A VANGUARDA PARTICIPACIONISTA BRASILEIRA (1954-1973)
“O
neoconcretismo foi responsável pelas principais transformações estruturais no
campo das artes visuais no Brasil, como a superação dos suportes tradicionais
(pintura e escultura), a proposição de novos meios para a criação artística
(objetos, ambientes, apropriações etc.) e uma modificação das obras de arte
(participação).”
Obra de Helio Oiticica
* * *
“A
manifestação artística é pensamento colocado em ação e pode conduzir a uma
reflexão política e social. Nestes termos, a manifestação artística não efetua
uma transformação da realidade a ponto de mudar o mundo, mas pode contribuir
para a mudança da consciência e impulsos dos homens e mulheres, que poderiam
mudar o mundo. Ela pode imparar, promover, consolidar ideias, valores e
utopias.”
* * *
Intradução
- Nelson Ascher
“... o poeta Augusto de Campos cunhou um termo feliz: intradução. Se tradução
significa, originalmente, conduzir (dução) através (tra) de, já em intradução,
o in pode tanto ser um sufixo de negação quanto de inserção, enquanto intra
indica penetração. Temos, então, a um tempo, vários termos: in-tradução afirma
seu caráter de tradução penetrante ao mesmo tempo que nega-conserva a própria ideia
de tradução; intra-dução simplesmente postula a atividade de penetrar. Se a
tradução, propondo-se a levar através de, objetivava levar além de, a algum
original mais originário, a intradução se propõe conduzir, texto adentro, a um
fim por definição inalcançável. Este termo caracteriza bem uma operação que, ao
contrário da tradução convencional, busca sua identidade na área da diferença,
proporcionando, assim, o melhor dos acessos ao interior do poema. Podemos,
então, definir intradução como a superação da tradução que enfoca a área da
diferença, possibilitando uma história própria à sombra, que faz se erguer.”
* * *
NOIGANDRES
E INVENÇÃO revistas porta-vozes da Poesia Concreta por Omar Khouri
“Mantendo
o clima de polêmica que sempre caracterizou o grupo, o Plano-Piloto diz a
quantas veio: declara extinto o ciclo histórico do verso e coloca o branco da
página como elemento de ordem estrutural na poesia. Condena a linearidade do
discurso e propõe uma sintaxe espacial. Elenca precursores, de Mallarmé a João
Cabral de Melo Neto e reivindica conquistas das Artes Plásticas e da Música, o
que demonstra a vocação intersemiótica da Poesia Concreta. Considera o poema um
objeto em si e por si. Coloca ainda a palavra como matéria-prima do poema, mas
palavra considerada em suas dimensões sonora, semântica e gráfica (visual).”
* * *
“O
poema visual caracteriza-se por valorizar a imagem como entidade universal. A
palavra, no caso, é um apêndice muito bem explorado e colocado, compondo um
todo harmônico capaz de permitir ao "vleitor" - aquele que lê e vê ou
só vê - uma infinidade de leituras, de
acordo com o nível do seu conhecimento, experiência, cultura e escolaridade.”
-
Hugo Pontes
* * *
ENCONTRO DE TEXTOS - Clarmi REGIS
“Esse
movimento de invenção e construção poéticas pensou na comunicação eficiente e
no ato da leitura, incorporou a sensibilidade do leitor moderno ao trabalho da
criação, utilizando os mais modernos recursos e técnicas visuais. Mas,
permanece pouco lido e, portanto, pouco conhecido. Na verdade, o modo de
produção do poema concreto transforma o poeta num artista gráfico, artesão que
deseja manter as marcas do seu trabalho ao longo do processo industrial.”
* * *
“A
poesia concreta caracteriza-se pelo diálogo e antagonismo em relação aos
recursos poéticos tradicionais. Como se verá, a exploração de todas as
potencialidades das palavras e das combinações sintáticas é dominante. São
utilizados novos recursos, que abrem possibilidades múltiplas de significação e
questionam a leitura linear, de mão única. Cada poema é um enigma a ser
decifrado – basta uma aproximação sensível e uma boa vontade lúdica do leitor.
Daí, julgarmos impertinente notificar todos os procedimentos mais técnicos de
palavras. Que o leitor tenha a liberdade
de se render ao estranho, num contato imediato de terceiro grau.”
* * *
“A
poesia concreta, que acaba de romper as paredes da experiência de um grupo para
se tornar um acontecimento, uma revolução, funda-se no trabalho sobre a
linguagem poética, é o fruto de pesquisas que, partindo das conquistas válidas
da poesia dita moderna (Mallarmé, Joyce, Pound, Cummings, Oswald de Andrade,
Drummond, João Cabral de Melo Neto), rompeu com a sintaxe discursiva,
unidirecional, trazendo em compensação para o campo da expressão poética as
estruturas pluridimensionais, criadas pela relação visual dos elementos verbais
e a exploração de suas cargas sonoras.”
-
Ferreira Gullar
* * *
POESIA DIGITAL: TRÊS LEITURAS DA OBRA DE JASON NELSON - Renato Medeiros Cordeiro
“Na
poesia experimental que investe no diálogo entre linguagens, os versos se
tornam mais curtos ou até dão lugar a palavras e letras. O poema inteiro pode
ser formado por apenas uma vogal e, mesmo assim, ser provido de expressividade
plástica e semântica.”
“Com
um pouco de atenção, pode-se perceber que, no fundo e de certo modo, toda
poesia escrita é visual, mesmo que nem sempre haja apelo visual envolvido.”
“Temos,
portanto, três tendências concretistas, de acordo com a classificação de
Philadelpho Menezes (1991). Na poesia concreta do grupo Noigandres, a
poeticidade está no produto autônomo, ou seja, na chamada obra poética. Já em
Wladimir Dias-Pino, a fisicalidade do produto é somada à participação do
leitor, capaz de funcionalizar a obra. Por fim, na poesia neoconcreta a
poeticidade está centrada apenas na vivência poética do leitor, transformando o
objeto apenas em um pretexto ativador dessa expressividade íntima do
espectador. O neoconcretismo acaba por tornar-se uma experiência conceitual,
abstrata e subjetiva, cada vez menos ligada à verbalidade e que inclusive vai
deixando de lado a palavra, para concentrar-se na letra.”
“A
proposta da semiótica peirceana é entender como se dá o processo da percepção
da realidade através da significação e também como os significados são
transmitidos de uma mente para outra. Conhecer a dinâmica dos signos ajuda a
compreender determinados comportamentos e práticas sociais, podendo esclarecer
que tipos de ferramentas podem ser úteis para se intervir nessas práticas. A
Semiótica também pode ajudar na escolha de signos adequados para melhor
informar, dizer, produzir sentido, enfim, significar. Ainda na publicidade,
podemos ilustrar isso com um exemplo simples: se o publicitário ou designer
gráfico consegue entender a dinâmica dos signos, ele pensará nos signos que
atingirão seu público-alvo com melhor eficácia em uma nova campanha.”
“Essa pluralidade de formatos e campos de atuação deu frutos a várias denominação, mas nos deteremos a chamar de poesia visual essas manifestações poéticas voltadas à visualidade, de acordo com o termo adotado por Philadelpho Menezes, para quem “a poesia visual é um termo genérico que agrega, que contém em seu interior, as diversas poéticas visuais, incluindo-se o da poesia concreta.”
“Essa pluralidade de formatos e campos de atuação deu frutos a várias denominação, mas nos deteremos a chamar de poesia visual essas manifestações poéticas voltadas à visualidade, de acordo com o termo adotado por Philadelpho Menezes, para quem “a poesia visual é um termo genérico que agrega, que contém em seu interior, as diversas poéticas visuais, incluindo-se o da poesia concreta.”
* * *
A
OBRA POÉTICA DE ARNALDO ANTUNES - Nelson Ribeiro Modro
“Esclarecemos
ainda que o termo vanguarda é entendido como um movimento consciente de cunho
inovador e no caso da poesia se trata daquela "que, experimentando novos
procedimentos de composição de poemas choca-se com o sistema estético vigente
enquanto reflexo de uma ordem ideológica mais ampla, e, por isso, propõe, mesmo
que subliminarmente uma transformação desse complexo cultural", isto é,
propõe um rompimento com as estéticas poéticas anteriores e a inauguração um
novo fazer poético.”
“Há
a distinção entre os termos poesia/poema. Os poetas desta manifestação
literária afirmam que não existe poesia processo, mas sim Poema Processo,
"porque o que é produto é o poema". A poesia é metafísica (abstrata e
individual), enquanto que o poema é físico (é produto e é coletivo).”
“Essa
vinculação do poeta com uma estética concretista não é transitória. Segundo
declarações suas: "sempre me senti muito atraído pela coisa construtiva da
poesia concreta... trabalhar com a materialidade da linguagem. O que me emociona
mesmo vem disso, e não de uma coisa mais subjetiva ou discursiva. Para mim a
emoção vem da síntese, da condensação de sentidos dentro da poesia. Considero
preconceituoso e equivocado esse mito de que a poesia concreta não tem
emoção". - Arnaldo Antunes”
“Num
depoimento do poeta Bernardo Vilhena é possível verificar a postura adotada
pelos poetas marginais frente ao fazer poético:
- No momento em que você está diante do papel, jogando com as palavras, não importa a forma, seja concreta, práxis, processo, abscesso, retrocesso, caguei, qualquer forma de poesia, o que importa é o prazer que você tem em estar brincando com aquela forma.”
“Seus
primeiros livros lançados comercialmente (Psia, Tudos e As Coisas) possuem como
característica o experimentalismo, isto é, Arnaldo Antunes ousa poeticamente ao
adotar várias práticas construtivas diferenciadas. O uso objetivo da palavra; o
aproveitamento icônico; a ingenuidade construída e o caráter lúdico da poesia,
enquanto curtição; a decomposição vocabular; a originalidade; a exploração
sintático-semânticofônica das palavras; o uso do espaço em branco do papel; o
uso de recursos visuais numa aproximação com as artes plásticas e a exploração
da possibilidade de novas formas poemáticas são algumas das características
advindas de distintas manifestações literárias já consagradas e que podem ser
observadas, racionalmente agrupadas e utilizadas, nestas suas obras iniciais.
Arnaldo Antunes percorre caminhos que vão desde o verbal até o visual porém sem
descartar o núcleo central de seu trabalho: a palavra.”
* * *
“A
poesia procura estimular a capacidade de raciocínio e de relacionamento do
leitor, criando um envolvimento mais profundo do seu sentido
crítico-perceptivo.”
- Fernando Aguiar
- Fernando Aguiar
* * *
“... o
trabalho criador do artista experimental é precisamente produzir estruturas de
grande entropia, pois, quanto maior for a entropia dessas estruturas, maior e
mais vasta será a informação possível; maior será, portanto, a pluralidade
significativa da obra de arte.”
- E. M. de Melo e Castro
- E. M. de Melo e Castro
* * *
Concrete Poetry in Portugal: Experimentalism and Intermediality - Rui Torres
“Experimental poetry helps to reform the
social conscience through the regenerative capacities of the signification of
the text.”
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IKON
COMO LOGOS. A POESIA VISUAL DE ANA HATHERLY - Piero Ceccucci
“Parece,
pois, inútil interrogarmo-nos sobre o que significa um texto poetográfico, no
qual se deve procurar não compreender e obter explicações, mas apenas ver.
Exclusivamente, no momento em que a recepção se tornar estética e o receptor
tiver sido atingido pelo dom luminescente da criatividade; quando a este último
for permitido – mediante um puro ato visual que, porém, é também introspectivo
e mnemónico e constitui a base psicológica da percepção – conhecer mais do que
re-conhecer, o texto poetográfico perderá o seu aspecto esfíngico e, revelando
ordem e partições perceptíveis de sentido, abrir-se-á no sentido de uma
“legibilidade” provável e não arbitrária.”
* * *
Como
ler Poesia Concreta - José Maria de Aguiar Carreiro
“Se
é pela primeira vez que a vê, não tente lê-la como poesia, melhor, nem sequer
tente lê-la de todo: olhe simplesmente para ela. Examine os espaços entre as
letras, as variações tipográficas, os espaços à volta das palavras. Considere-a
como uma imagem. Depois veja que ideias surgem dessa imagem associadas com as
letras e as palavras que há nela.”
* * *
“A
poesia semiótica faz parte de uma tendência dominante dos anos 60, que buscava
a criação de uma poesia visual sem palavras. (...) A teoria da poesia semiótica
é perfeita: pensar um poema visual cuja forma brote da própria letra. Isto é,
os diferentes desenhos que uma palavra pode ter determinariam o desenvolvimento
do poema visual numa configuração abstrata. (...)
O poema semiótico é composto de figuras geométricas, sem qualquer significado,
que vão se entrelaçando num desenvolvimento de formas puramente gráficas. Para
lhes dar sentido, o autor cria ao lado do poema uma “chave léxica”, isto é, um
pequeno glossário das formas visuais que aparecem no poema, atribuindo-lhes um
significado, uma palavra correspondente. Através desse processo, a forma visual
pura (o “ícone”, na teoria semiótica) ganha um sentido (“o símbolo semiótico”).
Um
dos postulados interessantes da teoria semiótica é a ideia de que os signos da
linguagem possuem seu lado icônico e seu lado simbólico, isto é, seu aspecto
formal e seus significados, mas de tal forma entrelaçados que é impossível
separá-los e mesmo distingui-los precisamente. Ora, a poesia semiótica faz
precisamente o contrário: não há nada num triângulo preto apontado para a
direita que dê a ele o significado de “macho”, ou num outro virado para a
esquerda que seja “mulher”. A relação estabelecida na “chave léxica” entre as
figuras geométricas e as palavras é arbitrária e forçada. O desenvolvimento das
figuras geométricas também não obedece a qualquer necessidade das próprias
formas.”
-
Philadelpho Menezes
* * *
O TIPOGRÁFICO E O TOPOGRÁFICO NA TRADUÇÃO POÉTICA: A VISILEGIBILIDADE DO POEMA VOYAGE DE GUILLAUME APOLLINAIRE - Álvaro Faleiros (Universidade de Brasília)
“Segundo
Jacques Anis (1988: 173), o espaço gráfico de um texto ou de um tipo de texto
é: O conjunto de traços que caracterizam sua materialização sobre um suporte de
escrita, assim como as relações que se estabelecem entre esses traços e a
significância. (...) Esses traços são a formatação (dimensões do espaço
explorável), o tipo de inscrição, as letras ou caracteres empregados, os sinais
de pontuação e traços gráficos.”
“Segundo
Meschonnic (1982: 304): Os brancos são necessários ao poema. Não apenas como
margens, mas como entrada do branco da página no interior do corpo do texto. As
entradas dos brancos marcam uma alternância entre o conhecido e o desconhecido,
o não-dito e o dito, avanços, recuos, as rimas da linguagem consigo mesma, as
intermitências do viver-escrever. A tipografia assinala que o poema é um ritmo
organizador (...) O branco não é um espaço inserido no tempo de um texto. Ele é
parte de sua progressão, a parte visual do dizer.”
* * *
"Affonso
Romano de Sant´Anna sempre provocou os concretistas, usando adjetivos que
refletiram suas restrições: “Os concretistas pelejaram por revalorizar
insanamente o ideograma” (p. 25 de seu livro POESIA SOBRE POESIA, 1975).
Cobrava dos vanguardistas do período (1956-1968) “mais humour como os de 22”.
Ou mais explicitamente: “Ver a contradição entre os ideogramas concretistas,
que apelam para a síntese, versus as intermináveis teorizações analíticas para
explicitá-los”. E em seguida ironiza: “Exercício escolar: desentranhar desses
versos os nomes dos concretistas paulistas”, referindo ao próprio verso em que
fala de “sermões ideogramáticos”... (Idem, p. 26)"
- Antonio Miranda
- Antonio Miranda
* * *
“Processo
é uma coisa em construção. Se a poesia
tradicional acha que um poema está concluído, possui um autor, que não aceita
que ninguém o altere, o poema/processo, por sua vez, tem a tese do poema em
processo. Só tem valor quando seu processo é trabalhado por diversos autores,
com novas versões, partindo do gráfico para o objetual, para o cinematográfico,
até esgotar toda aquela proposta inicial do poema.”
- José de Anchieta Fernandes Pimenta
- José de Anchieta Fernandes Pimenta
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Concretismo (1956) por Hilda O. H. Lontra
Dando prioridade ao aspecto da "procura de códigos", em detrimento ao da "procura de mensagens", o Concretismo fez-se inovador, pela presença de:
Dando prioridade ao aspecto da "procura de códigos", em detrimento ao da "procura de mensagens", o Concretismo fez-se inovador, pela presença de:
a)
recursos semânticos: ideogramas, trocadilhos, vocábulos polissêmicos;
b) recursos
sintáticos: técnica de justaposição aleatória, atomização das partes do
discurso;
c)
recursos morfológicos: construção e distribuição ímpar de prefixos e sufixos,
exploração de novos radicais;
d)
recursos lexicais: neologismos, empréstimos inusitados, estrangeirismo, recurso
a siglas;
e)
recursos fonológicos: excessiva exploração de assonâncias, aliterações, ecos,
rimas internas, distribuições fonéticas contrastantes;
f)
recursos gráficos: exploração do espaço em branco, do silêncio gráfico, ruptura
com o verso, não-linearidade, pontuação.
* * *
“Either you are going to work within a received
discipline - the sonnet is a well known form, and one can work within that well
known form, one can do interesting things within it.”
- Bob Cobbing
- Bob Cobbing
* * *
Interview: Ballet of the Speech Organs: Bob
Cobbing on Bob Cobbing - Steven Ross
Smith (1998)
SR: Have you ever written in what might be
considered, whatever it means, as the more traditional forms?
BC: No, I don’t think so, I think I was persuaded
to write, as I mentioned earlier, by being secretary of a writer’s group - a
non-writing secretary of a writing group but I was persuaded to become a writer
member. At that time, whether consciously or unconsciously, I said to myself
there is no point whatsoever in adding to the quantity of poetry in this world.
The world has quite enough poetry already. Probably too much. Far too much. The
only excuse for being a poet today is to add to the quality of poetry, to add a
quality which was not there before. Often, though, I have said that I write
poems which I feel the need for, which nobody else has written yet. And I think
that is what one writes, what one feels a need for. One tries to introduce a
quality rather than merely adding a quantity.”
SR: So there’s emotion in your work.
BC: Oh, very definitely, yes. Yes, yes. I think
this brings us back to the whole controversy in concrete and sound poetry.
Those who regard it simply as an intellectual exercise, who think it’s
concerned solely with form and that one is eradicating emotion, altogether, and
those like myself who believe concrete poetry and sound poetry can be just as
romantic as classical. I’m essentially a romantic, and I think all my work has
feeling it. I mean the whole concept of the poem on the page the poem sounded
is based on feelings and emotions, as well as on form.”
Bob Cobbing
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