Nicholas Martins, de 19 anos, escreve sobre homofobia, feminismo e droga.
(Foto: Inaê Brandão/ G1 RR)
"Quando eu era criança / brincar de boneca e maquiagem, era / 'Pura Viagem' / Eles diziam para minha mãe: / 'Dona Lúcia, ele tem jeitinho!'/ Mas para ela, era só excesso de carinho". É assim que começa o poema escrito pelo boa-vistense Nicholas Martins, de 19 anos, intitulado "Sem gênero". Ao contrário da maioria das poesias, que tratam de amor e desilusão sentimental, a obra escrita pelo jovem tem como inspiração o preconceito sofrido no dia-a-dia por ser gay. Neste sábado (14) é comemorado o Dia Nacional da Poesia, uma arte que Nicholas usa para combater o preconeito.
Ao G1, o estudante contou que, em 2014, quando cursava o terceiro ano do ensino médio, foi desafiado por uma professora de português a recitar ou escrever um poema em um sarau de poesia da escola. "Já escrevia poesia desde os 9 anos. Comecei a escrever sobre o que eu já tinha passado, porque na minha escola eu sofria muita homofobia. As pessoas tinham muito preconceito comigo e eu resolvi colocar tudo isso dentro da poesia", disse.
Quando o poema estava pronto, antes do recital, o estudante mostrou a obra para a mãe, que era professora de português.
"Ela achou perigoso, porque, na verdade, é perigoso você se expressar hoje em dia. Eu também fiquei com receio e quase desisti, mas quando recitei percebi que as pessoas gostaram e sentiram a mensagem passada e minha mãe também sentiu e achou muito bonita", lembrou o jovem.
Ele conta que a resposta do público no sarau foi surpreendente. "Estava preparado para receber muitas vaias, e quando eu terminei todo mundo me aplaudiu". Apesar da resposta positiva, o jovem disse que recebeu comentários negativos. "Teve gente na escola que falava que ia me bater".
Hoje Nicholas escreve sobre outros temas do cotidiano que considera relevante. "Já escrevi sobre feminismo e legalização da maconha também. Muitas vezes as pessoas acham que poesia é uma coisa bem fútil, 'bestinha' por causa das rimas, mas é possível atingir um público grande, como nos coletivos que tem aqui em Boa Vista que incentivam as pessoas a escreverem poemas", comentou.
Para o estudante, as artes podem servir como uma forma de escape para as pessoas que sofrem algum tipo de preconceito. "Acho que o governo deveria incentivar mais as artes. Poucas escolas aqui no estado tem uma uma programação voltada para a dança, canto e poesia", criticou o poeta.
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