Dona Geni entrega as poesias há três eleições - EMIDIO MARQUES
Dentre os centenas de eleitores que devem comparecer no próximo domingo a Escola Estadual Professor Enéas Proença Arruda, no Jardim Maria do Carmo, existe uma visita especialmente esperada pelos mesários. A presença em questão chega sorridente, simpática, agradecida e traz consigo um pouco de poesia e reconhecimento pelo trabalho prestado pelos voluntários, no dia em que a população é convocada a exercer o direito ao voto.
Pelo menos é assim há três eleições. As palavras escritas e enfeitadas à mão pela pensionista Geni Antonia de Miranda Coelho, são fruto de uma inspiração que nem mesmo a Poetisa Genérica, como assina seus textos, sabe precisar. "As ideias vêm da gratidão com que eles recebem meus acrósticos. E, se existirem outras vidas, elas vêm de lá", cita.
No próximo domingo não deve ser diferente. "Dona Geni", como é conhecida, promete levar a poesia, que já está pronta, como forma de homenagem aos mesários que irão recepcioná-la quando for votar. Ela, aliás, não abre mão do direito, mesmo já tendo vivido 73 primaveras. "A política é importante e necessária desde os tempos mais antigos e cabe a nós participarmos desse processo", afirma. A segunda estrofe do acróstico deste ano, inclusive, é dedicada e este tema. "E hoje neste dia tão claro/ Coroado pela força do sol radiante/ Todos os povos se juntaram/ Numa missão importante", destaca a poesia com o título "Mesário".
Viúva, mãe de nove filhos e sem nenhuma formação na área literária, Geni conta que começou a escrever poesias em 1986. A primeira delas foi dedicada ao então radialista Eli Correa e, curiosamente, não foi entregue até hoje. "Foi um descuido meu", justifica ela, que enxerga nos seus acrósticos uma forma de transmitir suas mensagens e presentear as pessoas queridas. "Já me sugeriram que eu escrevesse um livro, mas meu gosto mesmo é pela gratidão com que as pessoas recebem minhas homenagens", revela. Sem periodicidade definida para seus escritos, conta, ela escreve quando e sobre o que tem vontade, embora aceite também encomendas de amigos. O último trabalho, ainda em rascunho, faz uma comparação entre as eleições e a Copa do Mundo. "Esse eu guardo para mim, são minhas impressões", pondera.
O gosto pelas palavras, lembra, surgiu depois de casada. "Meu marido nunca teve ciúmes das minhas poesias. Ele mesmo declamava sempre para mim uma estrofe de amor que havia feito para ele", declara ela, que depois disso chegou a escrever para prefeitos, amigos e personalidades. A única coisa que não mudou, desde então, foi o local reservado para a escrita. "Sento na minha mesinha de oração, reuno os papeis em branco e então as palavras fluem", diz. Como escreve sem tema definido, optou por autodenominar-se Poetisa Genérica. "O nome surgiu porque eu escrevo sem compromisso e de forma espontânea", explica.
O acróstico, composição poética em que as letras iniciais formam uma palavra vertical, é escrita a mão e com desenhos nas laterais. A letra, redonda, revela muito. "Essa é minha marca", aponta. Além disso, Geni confessa não estar, ainda, familiarizada com a máquina de escrever que possui na sua casa. "Normalmente eu escrevo em dez minutos. Se for na base dos botões, demoro mais de duas horas, brinca ela, que espera nessas eleições, que sua poesia sirva para dar alegria aos mesários. "Nesses poucos anos, já foram tantas histórias de agradecimento que, se fosse guardar todas no coração, precisaria de um novo", finaliza. (Supervisão - Amilton Lourenço)
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